ACRE - 59 Anos

15 DE JUNHO

59 anos da elevação do Acre à categoria de Estado

JAMAXI: A POESIA DA MIRAÇÃO DO ACRE
Océlio de Medeiros

Fui além do Xapuri
buscar poemas dispersos
e trago em meu jamaxi
flores, frutos, alguns versos...

Jamaxi ou jamaxim
– escreva como lhe apraz –
o que importa para mim
é o que do Acre dentro traz.

Jamaxi , cesto ou paneiro,
de cipó trançado e feito,
é a carga que o seringueiro
traz nas costas presa ao peito.

Ao seu peso recurvado,
nele transporta o que quer,
vem do centro carregado,
volta levando o que der.

O meu jamaxi encerra
um passado que é presente,
angústias da minha terra,
misérias da minha gente.

Borracha, couro ou castanha,
decepções, desenganos
e as flores que a gente apanha
na vida ao passar dos anos.

As rimas soltas ao chão
vim colhendo com carinho:
são as trovas que o coração
desfolhou no meu caminho...

Seringueiro, traz aqui
do mundo que me extasia,
dentro deste jamaxi
o meu fardo de poesia.

Poesia é aquela maneira
de ver tudo diferente:
é o leite da seringueira,
é o jorro de uma nascente...

Pode ser subjetiva
ou surrealista paisagem,
mais concreta e objetiva,
ou mesmo metalinguagem.

Não é a forma que a encerra,
mas o que brota da mente:
imagens da minha terra,
paisagens da minha gente.

De qualquer sentido é a voz
ecoando na alma a esmo:
é o que está dentro de nós
e não no ser em si mesmo.

No brejo uma feia jia
sob um lírio coaxa amor:
onde é que está a poesia
na rã ou na bela flor?

Não és só sentido ou instinto,
não és somente animal,
sentes também o que eu sinto,
distingues o bem do mal.

A fonética ainda engasta
no verso a palavra rara,
mas se a rima se desgasta
no concreto o poeta pára...

Não se encerra a poesia
na forma condicionada,
conteúdo que extasia
– jamais se contém em nada!

Sem liberdade que o arrima
o poeta se deforma:
camisa de força é rima
e prisão perpétua é forma.

Estrangula-se na mente
a idéia não captada:
não encontra continente
na palavra limitada.

Ritmo é o som da essência
que só sente o coração,
são palavras com cadência
ou silêncios de emoção.

Acre tem sentido vário,
é agro, é azedo, é irritante.
Diz ainda o dicionário:
é forte, é mordaz, é picante...

Território e agora Estado,
mas seja o que é ou que for,
acre é o mundo amargurado,
vida azeda, espinho em flor...

Mas Acre é também poesia,
é a luz solar desmaiando
é a noite apagando o dia
é o céu de estrelas brilhando.

É o povo que em versos cantos
e a terra que não maldigo,
tem feitiço, tem encanto,
é o meu reencontro comigo.

E daqui para adiante,
esvazio meu jamaxi,
poesia do Acre distante
nos poemas que escrevi.

Océlio de Medeiros (1917-2008) sintetiza uma das mentes mais brilhantes e irreverentes de sua época. Acreano de Xapuri, viveu em Belém, onde concluiu os estudos primários e secundários, ingressou na Faculdade de Direito, e iniciou a vida no magistério e no jornalismo.